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Como nasceu a EstiLisot

Sempre gostei de ser professora e passar conhecimento para os outros. Se for um ser pequenininho, tipo uns 6 ou 8 anos, melhor ainda! A impressão que tenho é que me sinto mais viva quando vejo aqueles olhinhos arregalados e curiosos ao descobrir algo novo, como o funcionamento de uma máquina de costura!

Passei a infância aprendendo pontos de crochê e tricô com minha avó. Aos 9 anos, ganhei dos meus pais uma Maquininha de Tricot de brinquedo e ali montei meu primeiro empreendimento: uma fábrica de bonecas - vendia para os vizinhos, e o dinheiro ia todo para reinvestir comprando mais lãs (hahaha). Aos 13 anos, herdei da minha mãe meu melhor e mais útil presente: uma máquina de costura! E assim segui na adolescência, fazendo cursos nesta área. Tinha sempre um bordado na bolsa, praticava ponto cruz em todos os lugares: na fila do banco, dentista e até no trânsito. Na escola, era conhecida como “a menina que borda nas aulas”. E, até hoje, quando encontro algum professor do colégio por aí, eles perguntam "Tu ainda borda?". Adoro ter marcado a vida das pessoas com esse fato!

Até que cresci e me deparei com a famosa balança entre "ganhar dinheiro" e "fazer o que se gosta". Eu queria mesmo era ensinar a manusear agulhas, criar, pintar. Mas como fazer isso num mundo tão cheio de tecnologia e ciência? Esta dúvida se manteve por muito tempo. Aos 18, resolvi ministrar aulas de artesanato, já que era algo que eu sabia fazer bem. Então panfletei na vizinhança, juntei amigas interessadas e formei algumas turmas num pequeno quarto, em casa mesmo. Esse foi o "protótipo" da EstiLisot, mais ou menos em 2001/2002. Eu tinha uma mini turma com apenas duas aluninhas, em torno de 7 anos. Eu as ensinava a fazer seus próprios brinquedos com pano. Era lindo de ver o amor que tinham por cada boneca que produziam. Não queriam mais saber das de plástico, e eu acho isso o máximo até hoje!

Um ano mais tarde, para desespero dos familiares, optei por cursar faculdade de Artes Visuais. Convenhamos que ter uma filha artista plástica não é o sonho corriqueiro da maioria dos pais – ainda mais para uma família tradicional onde 90% são médicos. Tu já pode imaginar a avalanche de palavras pessimistas para meu futuro. Passei o curso todo em dúvida, tendo crises sobre esta profissão e o que me esperava. Tinha medo de não conseguir vencer e, principalmente, de escolher o caminho errado. Mal sabia eu que o caminho não se escolhe, a gente mesmo faz.

Durante a faculdade, não fiquei parada: estagiei em escolas, fui aprendendo a ser professora, sempre pesquisando, como qualquer menina curiosa faria. Na metade da graduação optei por fazer um curso técnico de Estilismo e então descobri que eu era mais estilista do que artista. Aprendi então a criar roupas, desenvolver coleções e pesquisar tendências.

Eu estava com 20 anos quando meu Tio Beto me convidou para trabalhar com ele no seu novo negócio: uma loja de bolsas. Lá aprendi tudo o que precisava para ser uma boa gerente. Mas o mais importante de tudo eram as nossas conversas ao final do expediente. Com este convívio diário ao lado do meu tio - o único comerciante da família - fui aprendendo a parte prática de um negócio.

Quando estava no último semestre da faculdade, Tio Beto, preocupado com meu futuro incerto, ofereceu abrir uma filial para eu administrar. Foi uma grande tentação, afinal, era uma renda garantida. Depois de muitas semanas de conversa, consegui convencer a ele - e a mim - de que eu só seria feliz se trabalhasse no meio de linhas, agulhas e crianças. Ele ficou surpreso, mas me apoiou, e eu saí da loja depois de quase 3 anos de trabalho e aprendizado.

Finalmente, chegou o dia de tornar aquela brincadeira uma "coisa séria"...

Após ter decidido que eu fundaria uma Escola de Costura para Crianças, precisava saber como fazer isso. Eu só sabia costurar, pintar, bordar. O ponta pé inicial foi começar a vida profissional com garra e vontade. Afinal, sempre acreditei que a falta de dinheiro é amiga da criatividade. Eu tinha duas latas de tinta que ganhei de presente de formatura e uma sala comercial dada pelos meus pais. Peguei meus pincéis e comecei. Em dois dias colori aquele espaço que era vazio e sem graça, pedi aos familiares móveis usados para compor o espaço - e às amigas para divulgar meu mais novo empreendimento. Aos poucos, fui transformando aquela saleta simples e desarmônica num ambiente aconchegante e com cadeiras coloridas. Não segui nenhum estilo de decoração, fui apenas reciclando cada móvel doado e, para minha surpresa, o “feito por mim” era justamente o que agradava e encantava as pessoas que entravam.

Minha escola estava linda! Bastava agora começar. E essa parte não foi difícil. Eu não me sentia trabalhando: me divertia! Talvez a maior dificuldade encontrada até agora seja o fato de mostrar aos pais de alunos que arte é essencial para o desenvolvimento da criança, e não uma simples recreação. Mas isso é questão de tempo e eu vou chegar lá. Comecei a divulgar somente pela internet, não paguei nenhum tipo de mídia. Com 3 meses de existência, algumas emissoras de TV e jornais procuraram a EstiLisot para entrevistas a fim de mostrar a ideia inovadora. Já tinha uma turma com 5 crianças e vibrava cada vez que o telefone tocava! Este grupo inicial me deu resultados ótimos e foi aí que percebi que estava no caminho certo, porque colocar crianças em contato com atividades que permitem a elas o FAZER e não só o CONSUMIR é gratificante. Fico radiante quando um aluno troca o computador pela máquina de costura!

Não era só o público infantil que procurava minha escola: adolescentes buscavam aperfeiçoamento nas disciplinas da faculdade de Moda, mulheres ansiavam um hobby produtivo, uma segunda fonte de renda, ou simplesmente algo que lhes desse prazer. Em pouco tempo, o leque de cursos aumentou significativamente: passamos a oferecer Modelagem e Costura, Automaquiagem, Desenho de Moda, Bolsas, Customização, entre outros. O mais legal é ver alunos abrindo suas próprias empresas de confecção após terem concluído nossos cursos! Prestamos serviço de consultoria para esse público que quer empreender, pois essa parte não é fácil e, por experiência própria, sei que a gente tropeça bastante!

Com um ano de existência, a escola necessitou ser ampliada. E só com 8 anos de empresa é que resolvi investir pra valer numa reforma para padronizar os móveis que antes eram as doações da família! Hoje contamos com duas amplas salas de aula, recepção, copa e 13 máquinas de costura - entre industriais e domésticas.

Todos os anos, organizamos um desfile com direito a passarela e camarim. É o fechamento do trabalho realizado ao longo de todo ano e também ajuda a divulgar nosso trabalho. Acompanho com alegria o envolvimento das alunas, desde a elaboração dos looks até os ensaios com suas modelos. Como algumas querem seguir carreira de estilista, é uma oportunidade de “sentir o gostinho” de subir na passarela como tal.

O que eu aprendi depois de ter fundado a EstiLisot e acompanhar todo seu crescimento foi trabalhar com a tua paixão e nunca desistir dos sonhos. Afinal, já disse o pensador chinês Confúncio: “Escolha um trabalho que goste e não terá que trabalhar um único dia na sua vida.”.

Frequentemente sou questionada: "Elisa, como tu consegue ensinar um assunto 'de adulto' para crianças tão pequenas?" Acho engraçada essa pergunta, porque pra mim é muito natural fazer isso. Claro que adaptei minha didática e faço uma linguagem lúdica para que os pequenos possam compreender as matérias como História da Moda. Na verdade a EstiLisot é a escola que eu queria que existisse quando eu era criança.

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